No mau jornalismo, como quase sempre faz, entre outros, o Correio da Manhã, as parangonas chamadas à primeira página em vez de dar uma indicação sobre o tema ou notícia em destaque abordada mais à frente, faz o inverso, influenciando logo aí opiniões sem que a notícia em si valha alguma coisa. O sensacionalismo vale para estes periódicos, onde o que interessa é vender e influenciar o modo como as pessoas agem e opinam perante as situações apresentadas, prestando assim um mau serviço à comunidade. Não é por acaso que se diz que o maior formador de opiniões é o jornalista – quais comentadores políticos, qual quê. Esses perante um jornalismo bem elaborado dentro dos parâmetros atrás descritos, são uns rapazolas com a vida pela frente. Ainda assim, e depois da parangona e o respectivo título na página indicada já ter formado a opinião do leitor, quando este arranja coragem para ler a notícia até ao fim, nada leva a indicar que essa notícia siga o caminho correcto vindo de um jornal como este, onde, se bem amassado, sangra até mais não. Muitas vezes as coisas são feitas sem ética e sem respeito pela vida humana. Se o título que dá início à notícia é, normalmente, igual à parangona da primeira página, esse mesmo título, também, muitas vezes, ainda faz pior, embrulhando por completo a notícia em papel celofane – mesmo que se consiga tirar dali alguma coisa o barulho da parangona e do título vão fazer com que esta já não importe mais, pois a opinião já está formada.
Foi o que aconteceu ontem com na primeira página do Correio da Manhã. A “Onda da Nazaré” é uma designação já de si infeliz: Afinal a Nazaré tem muitas ondas e muito mais perfeitas que a maioria das ondas da Praia do Norte, a praia onde foram buscar este título, sendo a mais poderosa, ou não tivesse o título da maior onda do mundo surfada com registo fotográfico. Temos ainda a onda mais perfeita duma praia na Nazaré – a onda da praia do Sul, mesmo logo a seguir ao molhe sul do porto de abrigo, sendo que, a mais perfeita se situa na zona oposta à praia do norte para o lado da vila ao longo do promontório – mas, nem sempre aparece. A Nazaré tem muitas ondas, meus amigos. Mas, a onda da Nazaré que matou um casal de idosos não foi a poderosa onda na Praia do Norte, onde, apesar dos efeitos do “Canhão da Nazaré”, por vezes o mar nem se mexe – tem dias –, a onda que provocou o incidente foi a da praia da vila, também ela poderosíssima, que, às vezes está, também ela, como a lama - nem se mexe. Mas, o casal morreu, coitados. Ninguém os mandou para lá, o mar já lá estava, assim como placas de aviso em várias línguas por toda a praia prevenindo os mais incautos da perigosidade até porque nesta altura do ano, fora da época balnear, nem sequer há vigilância. As condições para se ir tomar banho ou simplesmente molhar os pés depende do estado do mar, mas não só; depende, também, do cuidado que se tem, do conhecimento da zona, enfim, depende de muita coisa, até da sorte, como em tudo na vida.
Só uma nota para o Correio da Manhã e para quem fomentou “o mito da Onda” – Essa onda não é nenhum monstro que aparece ou é avistado a horas quase sempre certas como o monstro do lago Ness na Escócia. Aqui, como em quase toda a parte com mar, o set normalmente vem com mais ou menos ondas – habitualmente são mesmo sete – e não são monstro nenhum, mas tem de se ter respeito por elas, e, acima de tudo, saber o que se faz e até onde se pode ir – cada um tem o seu limite, coisa que a natureza não sabe o que é.
Para a próxima temos de pedir para colocarem na praia, em vez de pequenos avisos, meia dúzia de outdoors com os devidos alertas. Afinal o mar mata em qualquer parte do mundo e há gente que não sabe disso. Há ainda aqueles que se aproveitam da infelicidade da criação de uma Onda, como se de uma obra de arte se tratasse para tirar proveito e vender jornais. Quando do recorde, não homologado, em 28 de Janeiro de 2013, ninguém se queixou da divulgação a nível mundial da "Onda da Nazaré" - contra mim falo -, agora que morreu gente, mais uma vez, já não convém nada ter uma onda com trinta metros - é mau para o turismo tradicional. É com esse turismo que teremos de ir vivendo, se entretanto não o estragarem, pelo menos enquanto não souberem o que fazer com a "Onda da Nazaré" que é na Praia do Norte.