Destroços
Que histórias contariam, Nazaré,
Se ainda viesses a guardar
Essas tuas barcas destroçadas
Sem capas para as abrigar
A sós, como restos mumificados
De uns entes que bravo mar traiu
Na revolta de terrível fúria,
Parecem arcar com a lamúria
Duma existência que ruiu.
Pela proa erguida quase desfeita,
Fiéis ostentam remota arte
Envolta de místico tormento,
Como se delas fosse intento,
ó Nazaré, de acenar-te.
Quase vultos, esquecidos no tempo,
Alheias à causa que as negou,
Aguardam mudas a destruição.
Por teus mares jamais andarão!?
Esvai-se o ícone que a terra gerou!
Vancouver, B.C.
30 Janeiro 1983
Macatrão, Armando (2006). Expressões da Nazaré(th) 2ª edição (ampliada), pág.127. Edição do autor